As Duas Mortes do Barbosa

SOBRE O LIVRO

O leitor encontrará aqui um goleiro famoso da seleção brasileira que morre duas vezes; a estátua do poeta famoso conversando com um fantasma também célebre; a empregada doméstica cuja sede de cultura lhe abre as portas da rua, para ir atrás de si mesma. Encontrará, sobretudo, um Rio de Janeiro que só poderia estar no verso dos cartões-postais, na escrita rápida e aguda de um viajante que vê o avesso dessa anódina paisagem que nos é oferecida pelas arquiteturas do poder.

Carlos Pronzato é, sobretudo, um viajante. Um artista (escritor, cineasta) que não deixa o pó assentar sobre sua vida, suas imagens ou palavras. Move-se para ver as coisas sem que o bolor do hábito burguês avelude a crueza da realidade, recobrindo verdades inquietantes. Assim, aberto ao estranhamento que permite ir além de lugares-comuns, foi a Roma e escreveu sobre o Trastevere. Em São Paulo e na Bahia, fez o mesmo. Agora nos presenteia com estes contos cariocas, que são, também eles, testemunhos de um olhar cortante, em que se podem distinguir a crítica às injustiças sociais e o que é aparentemente irreal, mas igualmente revelador. O que nos remete ao realismo fantástico de Juan Rulfo, García Márquez, Cortázar e tantos outros autores que mesclaram denúncia e magia em suas tessituras literárias.