Entre o Cabo Sardão e o Cabo da Roca: A pesca e a vida quotidiana (1927-1958), nos Diários do “Mano Mário”, pescador do Alentejo Litoral

SOBRE O LIVRO

Um pescador de Sines deixou escritos, como se de objeto arqueológico se tratasse. Da mesma forma que uma ponta de seta ou uma taça cerâmica transportam informação sobre uma paisagem que não vemos, mas que podemos imaginar, os textos manuscritos por Mário Zurego transmitem algo sobre quem os criou. [...]

Os escritos deste homem são uma expressão pura e objetiva daquilo que considerava merecedor de ser registado. Não sendo um diário clássico, constitui um documento desinteressado, com a narrativa histórica que se transforma num documento histórico, graças ao trabalho de organização desenvolvido, de forma sistemática, por Maria da Luz. 

Com este trabalho, a partir de um vasto conjunto de apontamentos, escritos durante trinta e um anos, é possível trazer para a atualidade a dimensão imaterial da vivência expressa nas memórias dos lugares. E a memória, ainda que manuscrita, é sempre passado. Nesse sentido, esta edição ganha diferentes dimensões, na medida em que os textos transcritos podem ser apreendidos numa dimensão literária, enquanto fonte histórica ou, se nos centrarmos no suporte físico dos cadernos manuscritos, na interpretação de artefactos arqueológicos.

Do prefácio de Francisco Silva